segunda-feira, 30 de março de 2015

Expectativas

Uma mulher foi comprar o jornal na banca:

-O jornal por favor.
-São quatro e cinquenta.
-Só tenho cinco.
-O troco pode ser em bala?
-Não.
-O troco pode ser em moedas de cinco?
-Não.
-O troco pode ser uma performance de malabarismo?
-Sim.

O jornaleiro então tirou três bolas de tênis do bolso e executou lançamentos simples na técnica da cascata, na qual duas bolas são suspensas enquanto a terceira alterna entre mãos. Terminou a apresentação depois de doze jogadas.

-Aqui sua sacolinha.
-Obrigada

sábado, 21 de março de 2015

Ajustiça

Há quem diga que o mundo é injusto. O que pode ser metade verdade, dependendo de como você o define. O mundo é o produto final da relação entre natureza e civilização; apenas a segunda parte dele é julgável. A civilização, a maneira como todos seres humanos se relacionam e se relacionaram ao longo da história, pode ser pesada na balança da justiça. Ainda que esse emaranhado de ações, pensamentos, direitos, ideias e poderes sejam infinitamente complexos, são todos guiados pela moral e razão e, portanto, podem ser justos ou injustos. A natureza não.A natureza determina quais pessoas vão nascer com certas características, quais populações serão afetadas por tais doenças, quais países vão sofrer a certos desastres naturais. Ela dá a alguns qualidades genéticas de um herói e a outros, deformidades terríveis. Ela causa câncer em crianças e mantém homens de índole questionável vivos por anos. Ela joga raios em banhistas. Ela mata bebês no parto. Tudo de forma aleatória, tudo de forma desconexa. Como é possível atribuir qualquer senso de justiça a tantas inconsistências morais?

A natureza é ajusta.